Conheço quase ninguém que foi ao Piauí. Pois bem, por conta
de um cunhado que contradiz todas as piadas e trocadilhos, ou seja, é gente
fina, já estive por lá duas vezes.
A primeira, há dois anos e meio, não foi lá essas coisas. O anfitrião
era novato, o calor estava de doer – mínima de 32ºC - e não lembro de ter
conhecido algo realmente interessante. Ainda trouxe na bagagem alguns aliens
enterológicos por conta de aventuras gastronômicas.
Bão, fomos novamente, desta vez para um convescote dos bons –
festa de 40 anos do cunhado. Desembarcamos na tal da época do BROBró (fala-se be-erre-ó-bró,
tudo junto), que vai de setemBRÓ, passando por outuBRÓ e novemBRÓ, terminando
em dezemBRÓ.
Mandacaru quando fulora na seca. É sinal da chuva no sertão |
Em três tópicos, o que trouxe de mais importante na bagagem
cerebral. Tentei colocar umas âncoras para você ir direto ao assunto, mas não achei a ferramenta nesse maldito blogger entortador de fotos.
Sorte sua porque vai ter que ler inteiro - e vais apreciar um texto bem escrito que este humilde e modesto blogueiro vos oferece.
Comida
Sorte sua porque vai ter que ler inteiro - e vais apreciar um texto bem escrito que este humilde e modesto blogueiro vos oferece.
Comida
A festa de 4 décadas foi num buffet. E nada de hors d’oeuvre (valeu, google!), finger food,
confit, tartar, brulée e o kct-a-4. Foi uma viagem aos anos 80, com empadinha,
folhados, escondidinhos e deliciosos canudos recheados de frango – e que lá chamam, pelo menos
as crianças espertas, de rabo-de-tatu.
Na mesa do ‘bifê’, pernilzão, medalhão, maria-isabel – prato
típico de arroz com carne seca -, salada de folhas com maçã. Quer cardápio mais
anos 80 que isso? Só se tivesse estrogonofe.
Estava bem bom! Cotação G. (esqueceu o ranking? Vai no pé da página e volta)
O segredo do sabor? Gosto pela coisa. Fomos ao local algumas horas
antes da festa e vimos as tias (faixa
etária para lá dos 50) preparando a boia. Coisa bonita de ver, tudo fresco,
feito a mão e com muito carinho por gente que poderia estar em casa aposentada e
vivendo de bolsa-qualquer-coisa. Mas, que bom, preferiram trabalhar, cozinhar e
se orgulhar.
Nos restaurantes – fui
com expectativas bem baixas por conta do histórico. Mas isso foi bom, pois voltei
bem surpreso. Graças a algumas cadeias de restaurante que garantem qualidade e
boa gastronomia. E olha que rede de restaurante costuma ser antônimo de sabor.
Lagostas longe do mar. |
Coco Bambu
Frutos do Mar* - com filiais em Salvador, Fortaleza, Distrito
Federal e Teresina. Ambientação bacana, ar condicionado até no banheiro. Cheguei
lá achando que ia ter uma experiência ala America – bonitinho, mas ordinário
(ou JO).
Mas eis que começamos com uns pastéis de camarão com
catupiry de cair o queixo – camarão de primeira, massa sequinha, e quase uma refeição de tanto recheio.
Como principal, pedimos uma tábua de frutos do mar grelhados fantástica. Nunca pensei que ia comer um peixe (pescada amarela) e uma lagosta (!) tão bons em Teresina, única capital nordestina longe do mar. Ainda tinha lula, camarão, marisco. Cotação G.
Como principal, pedimos uma tábua de frutos do mar grelhados fantástica. Nunca pensei que ia comer um peixe (pescada amarela) e uma lagosta (!) tão bons em Teresina, única capital nordestina longe do mar. Ainda tinha lula, camarão, marisco. Cotação G.
*Também tem o Coco Bambu Tapioca e Crepes. Fuja, pois eles
vendem tudo isso junto com sushi e pizza.
O Favorito - essa
rede tem bistrô, churrascaria, sushi (fuja), pizzaria, etc. Mas tem o Favorito Típico.
E esse vale a pena. Depois de camelarmos em Sete Cidades (leia mais abaixo), fomos para a primeira refeição de verdade do dia por volta de 20h. Claro que a
fome colaborou no tempero, mas tivemos boas supressas. Entre elas:
- o quibe do sertão, bolinho de macaxeira com recheio de
carne seca e requeijão. Bem crocante e recheado;
- língua bovina chapeada e servida ao molho madeira, com puré de batatas.
Entrada que pedi para lembrar se gostava ou não do corte. E adorei. Assim como
minha amada e gastronomicamente conservadora esposa, última pessoa que pensei que aprovaria a iguaria ruminante. Enfim, a mesa toda comeu e aprovou o órgão lambedor
bovino;
- Galinha caipira, galo capote (galo criado, magrelo, feito
com molho de seu próprio sangue) e carne de sol. Esses foram alguns dos pratos
principais que vieram bons, fartos e úmidos, desfazendo a impressão de comida seca da primeira vez. Também leva um G!
Na rua - domingo à noite, vi nos bairros mais simples mesas com panelas brilhantes
montadas no meio-fio – sé que podemos chamar aquilo de calçada. Perto do condomínio do anfitrião tinha uma. Não tive dúvida, corri lá.
- Creme de galinha e mingau de tapioca (NA: acho!)
- Quanto custa?
- R$ 1,50 cada.
- É costume vender assim na rua?
- É sim. De sábado tem mais coisa, minha mãe faz galinhada,
mungunzá, maria isabel...
- Dá um creme. E uma pimenta caseira. Toma dois reais. Se for bom,
não precisa dar troco.
- Oxe, logo se vê que o senhor não é daqui.
E estava FG! Cremoso, cheio de galinha bem temperada numa base
de milho. Quente e apimentado – suadeira garantida no BROBró. Pena que não
fiquei até o fim de semana seguinte para provar o cardápio completo.
Contei ao cunhado. “Caramba, comida boa e barata na porta de casa. E eu não sabia”.
Contei ao cunhado. “Caramba, comida boa e barata na porta de casa. E eu não sabia”.
FG também para:
Temperatura das
cervejas - todas, em todo lugar, trincando de geladas. E olha que estávamos
no BROBró. Exceção à casa do cunhado, que nunca foi bom nisso. Mas ele ainda
aprende.
Preços – dá cada vez mais raiva
viver em São Paulo. A refeição, ou melhor, orgia gastronômica mais cara foi de
70 mangos por cabeça - aquela que teve lagosta, camarão, chope e cerveja (Stellas e
Heinekens) a rodo, frozen margueritas e etc. Sem falar no creme de galinha
caipira por R$ 1,50.
Cuidado!
Meda do sushi cozinhando em temperatura ambiente |
Pizza – a melhor pizzaria da cidade tem massa de pão de
forma. E basta chegar uma mesa com seis adultos e quatro crianças para travar o
serviço. As redondas e fofolentas pizzas demoraram mais de 45 minutos para chegar. B.
Churrasco – se for assar carne, vá direto ao Extra, Hiper,
Pão-de-Açúcar ou algo do gênero. Ou terás que encarar aqueles açougues com
carne pendurada na porta e mosca voando lá dentro. E se entender com o esquema de carnes e cortes local.
Não é para qualquer pessoa ou estômago.
Colesterol – se o seu estiver como o meu, não conte ao seu
médico o que comeu por lá.
Sete cidades
Cada conjunto de formações rochosas é chamado de cidade |
Por isso a visita ao Parque das Sete Cidades foi uma bela
surpresa. Cara, que lugar bonito, monumental, diferente, bem organizado,
absurdamente silencioso e cheio de história e realidade – seja nas inscrições
rupestres, seja na vida do Catirina que morou um filho com deficiência mental
dentro de uma pequena caverna.
Essa formação tem uns 20 metros de altura |
As fotos ao final contam melhor que eu. Como impressão final, FG! Passaria fácil a
noite tomando cerveja e ouvindo uns causos no único hotelzinho que tem dentro do parque – que é de
conservação total - você não pode tirar nem uma frutinha da árvore (como eu fiz)
sem ser censurado.
Dica: se programe para não começar o rolê às 13h, como fizemos. E olha que era o BROBró. Protetor, tênis e boné são indispensáveis.
Curtas
A história dos lençóis usados de hospital vendidos para
fazer roupa ou serem reutilizados é fichinha (relembre
aqui). Lá, vi um depósito de bebidas usando isopores para levar ÓRGÃOS PARA DOAÇÃO. As geladas iam lá dentro. Estava no tal muquifo quando chegou uma camionete lotada de caixas brancas com adesivos "Cuidado - material médico - órgãos humanos".
Tentei tirar uma foto, mas o dono chegou junto e disse: “Você não vai me entregar, né?!”. A 2.800 quilômetros de casa, numa rua erma de terra batida, a resposta foi: “Imagina, estou limpando o visor do celular. Me passa uma dúzia de Brahma... mas num isopor daquele outro!”.
Tentei tirar uma foto, mas o dono chegou junto e disse: “Você não vai me entregar, né?!”. A 2.800 quilômetros de casa, numa rua erma de terra batida, a resposta foi: “Imagina, estou limpando o visor do celular. Me passa uma dúzia de Brahma... mas num isopor daquele outro!”.
Estradas novas com costumes velhos, como mostram o pau de
arara da foto e as cidadezinhas que a rodovia atravessa.
Cidades com suas carnes penduradas, lojas de botijão de gás e farmácias em toda esquina e uma estratégia comercial do século XVIII: 90% do comércio têm nome “O Alguma Coisa”.
Tipo “O Albieri – Blog Meia-boca”, “O João – Informações a toda hora”, “O Márcio – Cerveja Quente”.
Cidades com suas carnes penduradas, lojas de botijão de gás e farmácias em toda esquina e uma estratégia comercial do século XVIII: 90% do comércio têm nome “O Alguma Coisa”.
Tipo “O Albieri – Blog Meia-boca”, “O João – Informações a toda hora”, “O Márcio – Cerveja Quente”.
Em alguns lugares falta limpeza, em outros sobra.
Ritmo devagar, comprovado pelo espanto da menina que tentou
atender oito famélicos do sudeste numa padaria em Pedro II. “Ajuuuude,
Letícia!”.
Falando em calor, Pedro II, “conhecida como a Suíça do
Piauí, por seu clima ameno”, abriga um improvável festival de inverno*. Suíça
do Piauí?! Nonsense total!
*Desabafo: porra, chama de tudo... Festival da Música (a
programação musical é boa), do Galo Capote, da Opala, da Minha Nega, do Deixa-que-eu-chuto,
da PQP. Menos de Festival de Inverno. Hahahaha. Pronto, extravasei minha
angústia da primeira viagem, de estar derretendo numa noite de 34ºC enquanto o
PI-TV convidava a comer fondue no tal festival do caral... ops, chega! Pronto, voltei.
Dá aflição ver os locais de calça e camisa, de dia ou à
noite. E olha que era o BROBró
O aeroporto é uma bosta, como reza o costume brasileiro.
Agravado pelo tamanho quitinete.
Banheiros públicos uma bosta (literalmente), como reza o
costume brasileiro.
É bacana ver uma cidade interagir com seu(s) rio(s). Coisa
que não acontece aqui.
Muito mais verde que da primeira vez. Culpa, ou melhor,
mérito da chuva.
Fotos Sete Cidades
Por favor, não faça a piadinha "Ah, foi turista que desenhou". Os guias agradecem |
Lá no fundão, o Ceará |
Presta atenção que tem alguém na foto |
Formas... foto virada pelo blogger |
Para esfriar os pés. Eu queria abrir um boteco aí do lado |
Certeza que o Niemeyer olhou e pensou: "Dá um prédio um bonito" e desenhou o Copan |
Lar do Catirina por 13 anos |
Agora eu vou pro Piauí com certeza! Algum dia....
ResponderExcluirComento só agora pois, só agora terminei de ler esse guia Piauí....Pro inferno com as 4 Rodas... vou é de avião com o Brogui impresso em baixo do braço... Bora pro Piauí comer sushi .... e a Maria Isabel de sobremesa!
ResponderExcluirQuando vocês forem, vô junto!
ResponderExcluirCharles, depois da Revista Piauí, veio o Guia Piauí. Prometo seguir seus conselhos broguísticos na próxima. Ou não...