terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Piauí é aqui



Conheço quase ninguém que foi ao Piauí. Pois bem, por conta de um cunhado que contradiz todas as piadas e trocadilhos, ou seja, é gente fina, já estive por lá duas vezes.

A primeira, há dois anos e meio, não foi lá essas coisas. O anfitrião era novato, o calor estava de doer – mínima de 32ºC - e não lembro de ter conhecido algo realmente interessante. Ainda trouxe na bagagem alguns aliens enterológicos por conta de aventuras gastronômicas.

Bão, fomos novamente, desta vez para um convescote dos bons – festa de 40 anos do cunhado. Desembarcamos na tal da época do BROBró (fala-se be-erre-ó-bró, tudo junto), que vai de setemBRÓ, passando por outuBRÓ e novemBRÓ, terminando em dezemBRÓ.

Mandacaru quando fulora na seca.
É sinal da chuva no sertão 
É a época mais quente do ano, e já esperava novamente ser tratado como um quitute de dim sum, ou seja, cozido no vapor. Mas o clima ajudou - choveu vários dias e a temperatura descia abaixo dos 30ºC à noite. A viagem foi bem bacana.

Em três tópicos, o que trouxe de mais importante na bagagem cerebral. Tentei colocar umas âncoras para você ir direto ao assunto, mas não achei a ferramenta nesse maldito blogger entortador de fotos. 


Sorte sua porque vai ter que ler inteiro - e vais apreciar um texto bem escrito que este humilde e modesto blogueiro vos oferece.


Comida

A festa de 4 décadas foi num buffet. E nada de hors d’oeuvre (valeu, google!), finger food, confit, tartar, brulée e o kct-a-4. Foi uma viagem aos anos 80, com empadinha, folhados, escondidinhos e deliciosos canudos recheados de frango – e que lá chamam, pelo menos as crianças espertas, de rabo-de-tatu.
Na mesa do ‘bifê’, pernilzão, medalhão, maria-isabel – prato típico de arroz com carne seca -, salada de folhas com maçã. Quer cardápio mais anos 80 que isso? Só se tivesse estrogonofe.  

Estava bem bom! Cotação G. (esqueceu o ranking? Vai no pé da página e volta)

O segredo do sabor? Gosto pela coisa. Fomos ao local algumas horas antes da festa  e vimos as tias (faixa etária para lá dos 50) preparando a boia. Coisa bonita de ver, tudo fresco, feito a mão e com muito carinho por gente que poderia estar em casa aposentada e vivendo de bolsa-qualquer-coisa. Mas, que bom, preferiram trabalhar, cozinhar e se orgulhar.

Nos restaurantes – fui com expectativas bem baixas por conta do histórico. Mas isso foi bom, pois voltei bem surpreso. Graças a algumas cadeias de restaurante que garantem qualidade e boa gastronomia. E olha que rede de restaurante costuma ser antônimo de sabor.

Lagostas longe do mar.
Coco Bambu Frutos do Mar* - com filiais em Salvador, Fortaleza, Distrito Federal e Teresina. Ambientação bacana, ar condicionado até no banheiro. Cheguei lá achando que ia ter uma experiência ala America – bonitinho, mas ordinário (ou JO).  

Mas eis que começamos com uns pastéis de camarão com catupiry de cair o queixo – camarão de primeira, massa sequinha, e quase uma refeição de tanto recheio.


Como principal, pedimos uma tábua de frutos do mar grelhados fantástica. Nunca pensei que ia comer um peixe (pescada amarela) e uma lagosta (!) tão bons em Teresina, única capital nordestina longe do mar. Ainda tinha lula, camarão, marisco. Cotação G.

*Também tem o Coco Bambu Tapioca e Crepes. Fuja, pois eles vendem tudo isso junto com sushi e pizza.

O Favorito - essa rede tem bistrô, churrascaria, sushi (fuja), pizzaria, etc. Mas tem o Favorito Típico. E esse vale a pena. Depois de camelarmos em Sete Cidades (leia mais abaixo), fomos para a primeira refeição de verdade do dia por volta de 20h. Claro que a fome colaborou no tempero, mas tivemos boas supressas. Entre elas:

- o quibe do sertão, bolinho de macaxeira com recheio de carne seca e requeijão. Bem crocante e recheado;
- língua bovina chapeada e servida ao molho madeira, com puré de batatas. Entrada que pedi para lembrar se gostava ou não do corte. E adorei. Assim como minha amada e gastronomicamente conservadora esposa, última pessoa que pensei que aprovaria a iguaria ruminante. Enfim, a mesa toda comeu e aprovou o órgão lambedor bovino;
- Galinha caipira, galo capote (galo criado, magrelo, feito com molho de seu próprio sangue) e carne de sol. Esses foram alguns dos pratos principais que vieram bons, fartos e úmidos, desfazendo a impressão de comida seca da primeira vez. Também leva um G!

Na rua - domingo à noite, vi nos bairros mais simples mesas com panelas brilhantes montadas no meio-fio – sé que podemos chamar aquilo de calçada. Perto do condomínio do anfitrião tinha uma. Não tive dúvida, corri lá.

Se liga no brilho da panela.
Creme de galinha por R$ 1,50
- Moça, o que tem aí?
- Creme de galinha e mingau de tapioca (NA: acho!)
- Quanto custa?
- R$ 1,50 cada.
- É costume vender assim na rua?
- É sim. De sábado tem mais coisa, minha mãe faz galinhada, mungunzá, maria isabel...
- Dá um creme. E uma pimenta caseira. Toma dois reais. Se for bom, não precisa dar troco.
- Oxe, logo se vê que o senhor não é daqui.


E estava FG! Cremoso, cheio de galinha bem temperada numa base de milho. Quente e apimentado – suadeira garantida no BROBró. Pena que não fiquei até o fim de semana seguinte para provar o cardápio completo. 


Contei ao cunhado. “Caramba, comida boa e barata na porta de casa. E eu não sabia”.


FG também para:

Temperatura das cervejas - todas, em todo lugar, trincando de geladas. E olha que estávamos no BROBró. Exceção à casa do cunhado, que nunca foi bom nisso. Mas ele ainda aprende.

Preços – dá cada vez mais raiva viver em São Paulo. A refeição, ou melhor, orgia gastronômica mais cara foi de 70 mangos por cabeça - aquela que teve lagosta, camarão, chope e cerveja (Stellas e Heinekens) a rodo, frozen margueritas e etc. Sem falar no creme de galinha caipira por R$ 1,50.


Cuidado!

Meda do sushi cozinhando em temperatura ambiente
Sushis – imagina uma padaria bacanuda vendendo sushi por quilo, exposto em cima do balcão sem refrigeração alguma. Pois é lá, tem! E olha que era o BROBró. FB.

Pizza – a melhor pizzaria da cidade tem massa de pão de forma. E basta chegar uma mesa com seis adultos e quatro crianças para travar o serviço. As redondas e fofolentas pizzas demoraram mais de 45 minutos para chegar. B.

Churrasco – se for assar carne, vá direto ao Extra, Hiper, Pão-de-Açúcar ou algo do gênero. Ou terás que encarar aqueles açougues com carne pendurada na porta e mosca voando lá dentro. E se entender com o esquema de carnes e cortes local. Não é para qualquer pessoa ou estômago.

Colesterol – se o seu estiver como o meu, não conte ao seu médico o que comeu por lá.

Sete cidades

Cada conjunto de formações rochosas é chamado de cidade
Nunca me aventurei muito no ecoturismo. De cabeça, lembro-me de uns dias explorando cachoeiras em Visconde Mauá (sim, EuElas&Afins, elas existem. Mauá também), umas aventuras até praias ultradesertas em Ubatuba com uns amigos que queriam ter nascido na Jamaica, um rally (vale como ecoturismo?) por estradas de terra no interior paulista, um rolê por Mangue Seco. Nada muito além disso.


Por isso a visita ao Parque das Sete Cidades foi uma bela surpresa. Cara, que lugar bonito, monumental, diferente, bem organizado, absurdamente silencioso e cheio de história e realidade – seja nas inscrições rupestres, seja na vida do Catirina que morou um filho com deficiência mental dentro de uma pequena caverna.


Essa formação tem uns 20 metros de altura
Único senão é essa história de ficar procurando forma nas pedras. Chega uma hora que você já está vendo macaco onde é foguete, napoleão onde é tartaruga – enche o saco. Ainda mais depois de três horas camelando debaixo do sol. E era BROBró.


As fotos ao final contam melhor que eu. Como impressão final, FG! Passaria fácil a noite tomando cerveja e ouvindo uns causos no único hotelzinho que tem dentro do parque – que é de conservação total - você não pode tirar nem uma frutinha da árvore (como eu fiz) sem ser censurado.






Dica: se programe para não começar o rolê às 13h, como fizemos. E olha que era o BROBró. Protetor, tênis e boné são indispensáveis. 

Curtas


A história dos lençóis usados de hospital vendidos para fazer roupa ou serem reutilizados é fichinha (relembre aqui). Lá, vi um depósito de bebidas usando isopores para levar ÓRGÃOS PARA DOAÇÃO. As geladas iam lá dentro. Estava no tal muquifo quando chegou uma camionete lotada de caixas brancas com adesivos "Cuidado - material médico - órgãos humanos".  


Tentei tirar uma foto, mas o dono chegou junto e disse: “Você não vai me entregar, né?!”.  A 2.800 quilômetros de casa, numa rua erma de terra batida, a resposta foi: “Imagina, estou limpando o visor do celular. Me passa uma dúzia de Brahma... mas num isopor daquele outro!”.


Estradas novas com costumes velhos, como mostram o pau de arara da foto e as cidadezinhas que a rodovia atravessa.  


Cidades com suas carnes penduradas, lojas de botijão de gás e farmácias em toda esquina e uma estratégia comercial do século XVIII: 90% do comércio têm nome “O Alguma Coisa”. 


Tipo “O Albieri – Blog Meia-boca”, “O João – Informações a toda hora”, “O Márcio – Cerveja Quente”.


Em alguns lugares falta limpeza, em outros sobra.


Ritmo devagar, comprovado pelo espanto da menina que tentou atender oito famélicos do sudeste numa padaria em Pedro II. “Ajuuuude, Letícia!”.


Falando em calor, Pedro II, “conhecida como a Suíça do Piauí, por seu clima ameno”, abriga um improvável festival de inverno*. Suíça do Piauí?! Nonsense total!

*Desabafo: porra, chama de tudo... Festival da Música (a programação musical é boa), do Galo Capote, da Opala, da Minha Nega, do Deixa-que-eu-chuto, da PQP. Menos de Festival de Inverno. Hahahaha. Pronto, extravasei minha angústia da primeira viagem, de estar derretendo numa noite de 34ºC enquanto o PI-TV convidava a comer fondue no tal festival do caral... ops, chega! Pronto, voltei.


Dá aflição ver os locais de calça e camisa, de dia ou à noite. E olha que era o BROBró


O aeroporto é uma bosta, como reza o costume brasileiro. Agravado pelo tamanho quitinete.


Banheiros públicos uma bosta (literalmente), como reza o costume brasileiro.


É bacana ver uma cidade interagir com seu(s) rio(s). Coisa que não acontece aqui.


Muito mais verde que da primeira vez. Culpa, ou melhor, mérito da chuva.

Fotos Sete Cidades


Por favor, não faça a piadinha "Ah, foi turista que desenhou".
Os guias agradecem

Lá no fundão, o Ceará

Presta atenção que tem alguém na foto
Formas... foto virada pelo blogger

Para esfriar os pés. Eu queria abrir um boteco aí do lado

Certeza que o Niemeyer olhou e pensou:
"Dá um prédio um bonito" e desenhou o Copan

Lar do Catirina por 13 anos

3 comentários:

  1. Agora eu vou pro Piauí com certeza! Algum dia....

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  2. Comento só agora pois, só agora terminei de ler esse guia Piauí....Pro inferno com as 4 Rodas... vou é de avião com o Brogui impresso em baixo do braço... Bora pro Piauí comer sushi .... e a Maria Isabel de sobremesa!

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  3. Quando vocês forem, vô junto!
    Charles, depois da Revista Piauí, veio o Guia Piauí. Prometo seguir seus conselhos broguísticos na próxima. Ou não...

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