O certo surpreende. Deveria?

Costumo almoçar num quilo um pouco diferenciado perto da Comunicare. Para não ouvir a pergunta "débito ou crédito" ou acabar com o dinheiro trocado da minha carteira todo dia, tenho o costume de pagar adiantado, fazer um vale.


Lá, eles me dão um cartãozinho de crédito, num esquema super-inteligente. É um cartão de visita com a logo do restaurante e, abaixo, escrito ´cartão de crédito'. No verso, em branco, eles colocam o valor que você depositou e, diariamente, descontam o valor gasto... por fim, registram quanto você ainda tem.


Mas o gancho aqui não é essa maravilha da engenharia financeira, e sim gestos... 


O ser aqui perdeu seu cartão. Tinha mais de 100 pilas de crédito. 


Alguns dias depois, já conformado com o preju, fui almoçar. Ao me ver pagando em grana, o dono fez aquela cara de "????". Comentei que tinha perdido o cartão e, ato contínuo, ele puxou outro e afirmou: "Você não pode ficar no prejuízo. Quanto tinha lá?"... preencheu o valor e me deu o novo... assim, sem questionar uma vírgula.


Fiquei surpreso pela extrema boa-fé dele. Sou cliente novo por lá, e entenderia se ele ficasse quieto - ou pelo menos fizesse umas doze perguntas antes de dar outro. 


Interessante que a reação das pessoas para quem contei essa historieta foi "Nossa, que bacana!"... ninguém comentou "normal, não esperava diferente". 


Algo está errado.


Dias depois, procurando um documento na minha carteira, achei o cartão antigo. Hoje, ao almoçar lá pela primeira vez depois da gentileza, devolvi o cartão novo, sem uso, e mostrei o velho para o pagamento... "Obrigado... (pausa) obrigado... (pausa)... obrigado!" foi a reação do lado de lá do balcão.


A incredulidade dele, assim como a minha, faz pensar que a boa-fé no mundo é exceção nos dias de hoje. E que o cara também deve estar contando (ou escrevendo no blog) sobre o cliente que agiu direito e causou surpresa, para não dizer espanto.