terça-feira, 2 de agosto de 2011

RETOMANDO EM GRANDE ESTILO

É fato que esse blog andou meio abandonado por falta de tempo e assunto. Mais do que justo com os minguados leitores que ele fosse retomado, então, com grande estilo. E que estilo - foi aniversário do Dudu.

  • ·         D: Mamãe, quero ir junto.
  • ·         E: Não pode filho.
  • ·         D: Por queeeee?
  • ·        E: É lugar de gente grande.

  •  E bota grande nisso.
Para comemorar o aniversário do meu magnânimo pai (em sua própria definição), o aniversariante escolheu o local – com intenso lobby de seus filhos, é verdade.


Fomos ao Fasano.

Poderia falar do chão de mármore, dos tijolos ingleses da fachada, talher de prata, guardanapo de linho egípcio, do banheiro elegante, que mais parece um gabinete presidencial ou ministerial, basta por uma escrivaninha (a privada deixa lá para eles continuarem fazendo o que sabem, porém melhor alocados). Mas tudo isso você encontra no Google em diversas reportagens sobre a casa.


Vamos falar de impressões.


Dos cinco comensais, três não conheciam a casa. Cada um chegou com suas expectativas e ansiedades, afinal estávamos pela primeira vez no restaurante mais caro, chique, votado, estrelado, recomendado, etc., etc., etc., do Brasil. Logo de saída, um dos estreantes, muito de bem com a vida, decretou: “Vamos enfiar o pé na jaca nessa merda aqui!”.


A noite começou com prosseco da casa e castanhas enquanto aguardávamos no bar. À mesa, o couvert era formado por pães, grissinis e manteiga, tudo muito bem recebido pelos comensais – “Que manteiga”, exclamou a novata feminina da turma. Depois chegou uma abobrinha recheada com funghi e pecorino, acompanhada de creme de tomate.


Aos pedidos:
O aniversariante e o novato boca-suja, ambos foram de menu do chef, com: 1. fígado assado, 2. risoto de funghi, 3. vitela com purê de batatas e 4. alguma coisa que eles não conseguiram definir acompanhada de sorbet de calvados (espécie de sidra);


Novata: vieiras grelhadas com abobrinha confit e tomate cereja para começar; peito de pato com molho de balsâmico (acho) e pinolis acompanhado de nhoque de ameixas; carolinas para finalizar;


Esposa magnânima do aniversariante: também vieiras grelhadas com abobrinha confit e tomate cereja na largada; nhoque recheado de ossobuco as the main course; sorbet não lembro do que para finalizar;


Jo, el bloguero, também um iniciante: abri caminho com salada de king crab com alface e massa fria; parti para ossobuco (para competir num ranking pessoal) e risoto de açafrão; suflé de chocolate recomendado pelo simpático garçom arrematando.


No meio do caminho, a fila de prosseco foi substituída por um Carmenére. Mais tarde, eu ainda pulei para uma taça de um Borgonha.


Voltando as impressões. Olha, não deve ser fácil ser dono do Fasano – aliás, ele estava lá recebendo os clientes. Todos saíram com alguma censura ao lugar.

O aniversariante queria algo mais exótico e, assim como o boca-suja, achou a sobremesa péssima. O do palavrão reclamou ainda que ouvia barulho de pratos batendo na saída da cozinha. A novata achou que o lugar fosse mais bonito. A esposa habitué também abandonou a sobremesa. E esse que vos tecla ficou altamente desapontado com a entrada, absolutamente sem-graça... só no finalzinho comecei a descobrir um molho que poderia ter salvado tudo se tivesse umas três colheradas a mais – e se a proporção de alface e massa fria (deliciosa) fosse invertida.


Mas por que tanto mimimi?


Porque se espera nada menos que a perfeição em um lugar tão caro quanto badalado. Mas sejamos justíssimos, perfeição não existe. E, se existisse, o Fasanão é quem chegaria mais perto. Mais impressões:


Vieiras grelhadas das minhas vizinhas de mesa – duvido que façam melhor em São Paulo. Quase pedi uma de sobremesa;


Nhoques de ameixa da patroa – inusitados e deliciosos;


Nhoque de ossobuco – já foi eleito o melhor prato de São Paulo por alguma revista. E deve ser mesmo, porque não consegui provar. Se mais alguém roubasse um nhoque da Mama, ela ficaria com fome – a porção não era pequena, a pilhagem que foi grande;


Os pratos principais do menu do Chef voltaram pra cozinha quase tão limpos quanto saíram;


Ossobuco – a última garfada, coberta por tutano, vai ficar na memória para sempre. Subiu ao topo do ranking, que tem no segundo lugar a Trattoria Dell’Arte (NYC) e Savio’s (Cancun) em terceiro (rankingzinho metido esse, não? Mas a internacionalização é do tempo que parcela importante do orçamento não era investido em fraldas e escolinhas e que o paitrocínio ajudava as incursões internacionais).


Risoto de açafrão – um moooonte de fios de açafrão verdadeiro deixando o prato quase vermelho;


O sorbet da calvados deu várias voltas pela mesa, todo mundo queria;


A montanha de Carolinas da minha consorte foi escalada sem dó. E dou um prêmio para quem souber fazer carolinas crocantes mesmo após receberem sorvete e calda; 

Physalis e outros mimos
Por fim, o expresso. A foto ao lado (entortada pelo blogger) explica porque até o cafezinho veio parar aqui – destaque para as belíssimas Physalis, pequenas cítricas importadas da Colômbia, envoltas em chocolate branco e ao leite. (dica: o Veloso lançou caipirinha delas - www.velosobar.com.br)


E a pergunta que não quer calar. Caro? Sim, muito, a conta poderia ser calculada em salários mínimos. O preço carrega os tijolos, guardanapos, banheiros e talheres mencionados acima e também o fato do ossobuco vir de uma vitela albina criada numa fazenda orgânica no sul do Uruguai, o açafrão vir direto do Irã, a farinha ser plantada numa comunidade sustentável sei-lá-onde, etc., etc., etc.

Em termos de grana, vale? Sinceramente, não sei dizer – até porque não foi meu bolso que ardeu. Voltaria lá? Tomara que sim.

Por beirar a perfeição, pelo atendimento super bacana – que quebra a austeridade do lugar –, pelo último bocado entutanado do ossobuco, pelas vieiras e o nhoque que eu não comi, pelas physalis que eu repeti, leva um FG+!

E como nem tudo é só alta gastronomia, o fim de semana foi fechado por um churrascão para o aniversariante, também com farto material importado – cordeiro e linguiças direct from Tupã, cervejas nacionalizadas pela Ambev (Norteña e Stella) ou Femsa (Heineken) –, além de itens da culinária nacional, como a costelinha da foto (também invertida pelo blogger). 


E com direito a risadas altas, criançada, família, amigos e uma conta mais palatável – essa, sim, bancada por mim.

2 comentários:

  1. Bro, Texto fantástico. Captou muuuuuito bem todas as nuances da noite. A efeméride está devidamente registrada!!! Bjs.

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  2. Valeu, queridão da boca suja... hahaha.
    Volte sempre... aqui, não no Fasano, obviamente $$$ falando.
    bjs

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